Ex-modelo brasileira é condenada por tráfico humano e escravidão

Kat Torres cooptou seguidoras e chegou a explorá-las sexualmente

Por: Valdir Justino

Texto: Thamirys Andrade

Publicada em 16 de julho de 2024 às 12:46
Imagem: Reprodução

Tráfico humano e condições análogas à escravidão. Esses foram os crimes que levaram à Justiça do Rio de Janeiro a condenar a influenciadora brasileira Katiuscia Torres Soares, de 34 anos, mais conhecida como Kat Torres. Segundo investigações, que envolvem até mesmo o FBI, a ex-modelo cooptava seguidoras para morarem com ela nos Estados Unidos, sob a promessa de fazer seus sonhos realidade, quando na verdade tornaria a vida dessas mulheres um pesadelo.

A impressionante história da influencer era seu cartão de visitas. A ex-modelo saiu de uma favela em Belém (PA) e ascendeu até as passarelas e capas de revistas internacionais, participando ainda de festas com celebridades de Hollywood, como Leonardo DiCaprio. Sua vida deslumbrava meninas que almejavam o mesmo destino.

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Nesse sentido, Kat lançou um site com serviço de assinatura que prometia ensinamentos para alcançar o amor, o dinheiro e a autoestima dos sonhos. Seus conselhos iam de relacionamentos até espiritualidade. A influenciadora teria passado a tomar ayahuasca, uma bebida psicodélica considerada sagrada para algumas religiões, e afirmava ter poderes espirituais.

Por R$ 817 reais, as clientes obtinham consultas individuais com a guru. Ao longo da mentoria, Kat se tornava uma pessoa de confiança e induzia as clientes a se isolarem de amigos e da família, até se tornarem dependentes dela para tomar decisões.

Segundo o documentário da BBC, Do Like ao Cativeiro: Ascensão e Queda de uma Guru do Instagram, Kat observava quais seguidoras eram as mais dedicadas e as convidava para juntar-se a ela em sua casa nos Estados Unidos.

VÍTIMAS
Uma das primeiras vítimas foi Ana, que até então era estudante de nutrição em Boston. Em 2019, a jovem foi chamada para ser assistente de Kat por um salário equivalente a R$ 11 mil por mês. Ao chegar ao local, no entanto, a vítima foi submetida a um trabalho análogo à escravidão, sem receber salário e tendo que ajudar Kat até mesmo em coisas básicas, como tomar banho. Sua cama era um sofá sujo com urina de gato, sua rotina de sono era de poucas horas e muito serviço doméstico. Sem ter para onde ir, Ana só conseguiu escapar três meses depois, indo morar na casa de um novo namorado.

Morando em Austin, no Texas, com o marido Zach, Kat recrutou as jovens Desirrê Freitas, Letícia Maia e Sol chamando-as de seu “clã de bruxas”. Kat as coagiu a trabalhar em um clube de strip e até mesmo a se prostituírem. As mulheres tinham metas de R$ 16,35 mil para alcançarem por dia, caso contrário, teriam que dormir na rua.

À BBC, elas contaram que eram proibidas de falar umas com as outras e precisavam da permissão para sair de seus quartos. Para as vítimas, era difícil sair da situação porque, além de não terem dinheiro algum, Kat ameaçava denunciá-las à polícia – a prostituição é ilegal no Texas -, estava em posse dos documentos delas, e bloqueou seus contatos telefônicos.

LIBERTAÇÃO
Sol, por fim, conseguiu sair com a ajuda de um ex-namorado, enquanto o sumiço de Desirrê e Letícia gerou uma campanha na internet. Devido à exposição na mídia, Kat chegou a ir para o estado do Maine com as vítimas. Foi somente em novembro de 2022 que a polícia a convenceu a comparecer à delegacia junto das jovens.

A influenciadora foi presa naquele mês, enquanto Desirrê e Letícia voltaram em segurança para o Brasil em dezembro.

A coach, que foi condenada pela Justiça do Rio de Janeiro, em 28 de junho deste ano, a oito anos de prisão, se diz “completamente inocente e relatou ter crises de riso ao ouvir “tantas mentiras a seu respeito”. Ela recorreu da condenação.

Kat também é alvo de mais uma investigação que envolve acusações de outras mulheres. Mais de 20 vítimas relataram ter sido enganadas ou exploradas até o momento.

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