O escritor Daniel Mastral deixou uma carta aberta para o filho caçula, um ano e cinco meses antes de ser encontrado morto no último domingo (4) em Aldeia da Serra, Barueri (SP). No texto publicado à época do anúncio da gravidez, o teólogo diz ao pequeno Lyann não saber “como expressar emoções”, mas ser capaz de dar a vida por aqueles que ama. Também fez desabafos, citando amizades que ele achava serem verdadeiras e que, posteriormente, provaram ser uma “triste ilusão”, relatando ainda momentos em que precisou de um “abraço sincero”.
– Lyann, meu filho, meu amor! Papai não sabe como expressar emoções. Sei proteger, acolher, cuidar, ouvir, aconselhar, ensinar, enxugar as lágrimas e celebrar as conquistas. Mas, papai, ou papa como me chamava seu irmão, Mikhael, embora sempre estivesse de mãos estendidas. Sendo capaz, sem titubear de dar minha vida por quem amo, abraçar, dar um beijo de boa noite. Pedir proteção de Deus, ensinar… jamais erguer a voz! Sei ser um bom amigo! Sou leal, parceiro para todas as horas. Na brincadeira me torno “criança”. Mas, quando preciso ser adulto preciso ser firme, em amor – escreveu ele, em publicação no Instagram.
O filho Mikhael, a quem o autor se refere, é o seu primogênito, que se suicidou aos 15 anos, em 2018, atirando-se de uma plataforma de trem na semana do Natal. Três anos após o luto, Daniel perdeu também sua esposa, a médica Isabela Mastral. Ela sofreu uma parada cardíaca em um infarto agudo do miocárdio.
Nascido este ano, Lyann é fruto de seu casamento com a terapeuta holística Dai Uechi, com quem estava junto desde 2022. Na carta aberta ao pequeno, o escritor afirma que os amigos reais são os que permanecem ao seu lado em tempos de “inutilidade” e abatimento.
– Você ainda nem nasceu já te amo tanto… Adoro sentir seus movimentos na barriga da mamãe! Você tem luz! Muita Luz! Mas, ainda sei que não sei expressar todo meu amor… Todas as pessoas que amei, ajudei, acolhi, acreditei, incentivei, ensinei, aconselhei, abracei, cuidei, ofertei, visitei, e amei com sinceridade… Pensei que fossem meus amigos (as). Triste ilusão. Aprendi que, conhecemos quem nos ama em nossa inutilidade. Quando você não tem recursos para ajudar, não tem tempo para ouvir (naquele dia), ou está abatido e não tem condições de ajudar nem dizer nada… Pois, existem momentos que também preciso de um abraço forte e sincero – desabafou.
Na sequência, Daniel citou as perdas que teve em sua família e expressou a expectativa de ser o melhor pai que podia nesta nova chance.
– Quem enxuga minhas lágrimas? Quem me aquece no frio? Quem me estende a mão quando tropeço? Quem me consola em momentos de dor? Os que se foram faziam isso com esmero e éramos mais que uma família, éramos um time! Por isso, meu filho amado, quero ser a você o melhor papai que pude ser um dia. Você é meu sangue! E sei que nosso vínculo será de puro amor ágape! Deus está me dando a chance de provar que, neste mundo, existe ainda lealdade, respeito e amor sincero! – assinalou.
Antes de encerrar, Mastral mencionou a esposa, Dai Uechi, dizendo que ela não desistia dele.
– Mamãe também me ajuda muito! É uma guerreira que me ensina sobre minhas fraquezas. Me faz uma pessoa melhor. Ela não desiste de mim. Mesmo quando sou bem chato! Este amor gerou você, Lyann! E sei que seremos uma família forte e poderosa, pois a força que nos une transcende os valores efêmeros deste mundo! Você é bem-vindo e muito esperado. Te amo! Papai! – concluiu.
ÓBITO
Escritor, teólogo, conferencista e ex-satanista, Daniel Mastral foi achado sem vida aos 57 anos, com um ferimento na cabeça em uma área de mata na Aldeia da Serra, em Barueri, São Paulo, no último domingo. Testemunhas relataram à Polícia Civil terem ouvido um “estampido”. O caso foi registrado como suicídio.
Segundo Boletim de Ocorrência, na lista de itens que foram apreendidos no local estão o carro de Daniel, um Tiggo modelo 2020, uma pochete de cor bege militar com “conteúdo desconhecido”, um revólver Taurus calibre 357, e dez projéteis, sendo um já deflagrado e os outros nove intactos.
PEÇA AJUDA
No Brasil, o Centro de Valorização da Vida é uma das instituições que dão apoio emocional e trabalham para prevenir o suicídio. Para pedir ajuda ligue para o número 188 ou acesse o site do CVV.