Falta de notícia é boa notícia? Depende. A pesquisa da Quaest divulgada hoje mostra que a aprovação de Lula recuou de 54% para 51% desde a sondagem feita em outubro. A queda está fora da margem de erro por muito pouco, assim como a desaprovação ao presidente, que foi de 43% para 46%. Ou seja, para os otimistas, nada mudou muito de lá para cá, e isso é bom.
A curva anual, porém, não é despreocupante para Lula. Há um ano, pela mesma pesquisa, o presidente contava com 56% de aprovação e 28% de desaprovação.
Mais: em fevereiro do ano passado, 40% dos entrevistados tinham avaliação positiva do governo Lula, contra 20% que tinham avaliação negativa. Hoje, há empate técnico: 35% a 34%.
De onde saiu tanta gente que passou a desaprovar Lula e avaliar negativamente o seu governo? Saiu principalmente do grupo dos cidadãos que não sabiam ou não quiseram responder no primeiro momento. Esse contigente, que era de 16% há um ano, agora é de apenas 3%. Na projeção da pesquisa, portanto, praticamente todos os brasileiros formaram opinião a respeito de Lula — e ela é mais negativa do que positiva.
É natural que, com pouco mais de um ano de governo, o presidente da República sofra desgastes, e que mais gente passe a achar alguma coisa sobre ele. A questão, para Lula, é a comparação com si próprio.
A sua característica de eterno palanqueiro já não cola mais como nos dois primeiros mandatos. Aspecto importante para derrubar a aprovação foi, por exemplo, a incontinência verbal do presidente em relação a Israel. Sessenta por cento dos entrevistados acham que Lula exagerou. Esse percentual sobe para 69% entre os evangélicos.
O lero-lero de Lula sobre as virtudes do seu governo também não parece mais convencer os brasileiros. Trinta e oito por cento acham que a economia piorou nos últimos 12 meses, 34% acham que ficou do mesmo jeito e apenas 26% acham que melhorou.
Explicável: existe a inflação do governo e a inflação do supermercado. Para 73% dos entrevistados, os preços dos alimentos aumentaram. Quem haverá de desmentir tanta gente?
Temos um presidente que não sai do palanque e um governo que só pensa em gastar mais e reestatizar. A estratégia diversionista de usar Jair Bolsonaro como bicho-papão se esgotou. O cidadão quer resultados que impactem positivamente o seu cotidiano, e não é na base do gogó que eles serão alcançados. O contexto é propício para começar a construir uma candidatura de oposição realmente forte. É a conclusão possível da pesquisa da Quaest divulgada hoje.
Por: Mario Sabino